“Carícias” são estímulos sociais dirigidos de um ser vivo a outro, o qual, por sua vez, reconhece a existência daquele.” Kertész, Roberto. Análise Transacional
Quando falamos em carícias, o pensamento que nos ocorre é que elas são um abraço, um afago, um beijo ou algo relacionado ao toque físico prazeroso. Generalizamos a palavra “carícia” para caracterizar os estímulos dirigidos a outro ser ou a si mesmo e as suas reações. Veremos as várias formas de carícias e seus efeitos, que podem ser positivos ou negativos, pois ” a cada ação corresponde uma reação” (Física ― 3ª lei de Newton Galileo).
A Análise Transacional ― AT, método psicológico criado em 1958, pelo psiquiatra canadense Eric Berne utiliza o termo inglês “Strokes” que significa simultâneamente estímulo e toque. Ela estuda a forma como as pessoas sentem, pensam, agem e se relacionam ― analisa as trocas ou transações de estímulos e respostas entre indivíduos. Em AT, uma “transação” é, na verdade, qualquer “movimento ou ação que uma pessoa empreende no seu relacionamento com os outros, provocando outro movimento ou ação de volta”.
Para melhor compreensão usaremos a palavra “Carícia” representando “Strokes“: toque, afago, estímulo.
Carícia é a unidade de reconhecimento humano. Começa antes do nascimento, com o toque físico, o som da voz materna etc. Segundo Verny, o melhor sentimento que o ser humano pode experimentar é ser amado e acolhido antes de nascer. (Thomas Verny – “A vida Secreta da criança antes de nascer” 1989)
O ser humano busca constantemente a felicidade. Como diz a Bíblia: “Nem só de pão viverá o homem...”. Os humanos têm outras fomes, tão importantes como o alimento e abrigo, necessitam de outros nutrientes para sentirem-se saciados. Temos fome de estímulos (necessidade de sensações físicas dos sentidos: olfato, tato, visão, paladar e audição); fome de contato, de reconhecimento ― os seres vivos
não sobrevivem à indiferença ou abandono ― qualquer forma de estímulo, mesmo que negativo (Levine), leva o indivíduo a perceber-se vivo, nem que para isto tenha que ficar doente.
As “Carícias” são importantes porque podem satisfazer essas fomes. O toque físico é o mais potente meio de reconhecimento, entretanto, com o passar dos anos, o toque físico é substituído por outras formas de carícia, que podem ser classificadas em :
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adequadas ou inadequadas ― por sua influência no bem estar físico, psicológico e social da pessoa
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adequadas são carícias sadias que aumentam o bem-estar a longo prazo.
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inadequadas ou doentias são carícias que provocam o mal-estar a curto ou longo prazo.
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positivas ou negativas ― pela emoção ou sensação que convidam a sentir
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positivas proporcionam emoções ou sensações agradáveis.
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negativas levam a emoções ou sensações desagradáveis.
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condicionais ou incondicionais ― pelas exigências ou condições para dar ou recebê-las
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incondicionais dadas ou recebidas pelo simples fato de a pessoa existir.
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condicionais dadas ou recebidas por comportamentos objetivos, porque disse ou fez isto ou aquilo.
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físicas, verbais, gestuais ou escritas ― pelo meio de transmissão
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físicas – de contato táteis – são as mais poderosas.
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verbais – expressadas por palavras, através da linguagem verbal ou oral.
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gestuais expressadas através da linguagem não verbal, através de olhares, gestos etc.
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escritas expressadas através da linguagem escrita (cartões, emails etc).
Podemos agrupar os tipos de carícia de algumas formas, para obtermos a que melhor se aplica em cada situação ou indivíduo. Uma carícia pode ser positiva para uma situação e prejudicial em outra. Exemplos:
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Carícias adequadas
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Incondicionais positivas: transmitidas por qualquer meio físico
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Expressadas fisicamente ― um abraço afetuoso.
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Expressadas verbalmente ― Oi, quanta saudade!
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Escritas ― um email, uma “curtida” no Facebook, um telefonema.
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Incondicionais negativas: estas, embora inadequadas, em determinados momentos podem tornar-se importantes. “Sinto muito, mas não amo você”. Embora constrangedoras e dolorosas, evitam o arrastamento de relações indesejáveis.
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Condicionais positivas: elogios e prêmios por comportamentos afetivos e éticos. Uma boa reportagem, aprovação em concurso, ajuda nas tarefas domésticas etc.
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Condicionais negativas corretivas: corrigem os comportamentos indesejáveis, sem ferir a autoestima. Embora negativas contribuem para apontar mudanças necessárias. “Corrija sua postura para não prejudicar sua coluna.”
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Carícias Inadequadas
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Incondicionais pseudopositivas ou maníacas: são inadequadas por reforçarem comportamentos indesejáveis. Embora pareçam agradáveis no momento são prejudiciais, pois levam a pessoa a supervalorizar-se, a iludir-se e a sofrer prejuízos. : “Fulano, só você consegue resolver essa briga. Você é um valentão”. ” Chegou o rei das saideiras. Bebe por todos e fecha o bar”.
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Condicionais agressivas: são inadequadas por diminuir a autoestima e a confiança das pessoas. Pretendem controlar comportamentos indesejáveis. ” Você consegue estragar tudo!” ” Você gosta de apanhar!” ” De novo?”.
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Carícias Mistas: São carícias agressivas, disfarçadas de positivas. Enquanto a parte positiva distrai, a destrutiva penetra no consciente das pessoas. Obrigar uma criança a comer algo de que não gosta ” é para você ficar forte”.
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Falsas positivas ou adulatórias: São carícias positivas desonestas e conscientes, para obter alguma vantagem. São as chamadas “carícias de plástico“. Você é o melhor chefe que já tive…” (para evitar advertência) “.
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Carícias formatadas: São carícias automáticas feitas indistintamente sem sensibilidade. Ex.: O tapinha nas costas dado pelos políticos ao abraçar eleitores, de olho nas câmeras.
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Carícia
Eficaz ― é a necessária
e a adequada o suficiente,
para promover o bem estar mútuo..
As carícias transcendem o simples bem-estar do momento e nos levam para uma vida plena. A duração e intensidade de qualquer atividade prazerosa que estimule os nossos sentidos como massagem suave, apaixonar-se, ter relações íntimas, um banho quente ou banho de sol, abraços, caminhadas ou corridas, meditação, relaxamento, ouvir a música preferida, dançar etc são elementos que atuam nos nervos da pele, aumentando os níveis de endorfinas e serotonina no sangue. As endorfinas ― chamadas de hormônios da felicidade
e do prazer; a serotonina regula o humor, o sono e a sensação de fome e saciedade.
Conhecendo os vários tipos de carícias, podemos aplicar a carícia eficaz para cada situação. Carícia eficaz é aquela que além de levar a pessoa a sentir-se bem, proporciona-lhe meios de se desenvolver. Muitas vezes uma carícia negativa é eficaz. Muitas pessoas tem dificuldade em aceitar críticas e com isso acabam limitando a manifestação dos outros sobre si. Com a abertura para ouvir o que os outros têm para falar, todos podem ampliar a sua maneira de ser e torná-la um hábito.
O jornalista Charles Duhigg, autor de um detalhado estudo sobre o poder do hábito explica que “é importante saber como as rotinas automatizadas funcionam em nosso cérebro e ter um plano de disciplina para trocar as más pelas boas”. Carícias positivas geram carícias positivas. Dar carícias gera mais carícias.
Pratique repetidamente a lista de carícias abaixo até que se tornem um hábito. E então elas funcionarão no piloto automático.
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Dê abundantes carícias positivas;
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Aceite as carícias que merece.
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Aceite carícias corretivas para crescer e melhorar cada vez mais;
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Peça as carícias positivas que necessite;
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Dê a si mesmo as carícias positivas que merece.
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Cuide de sua saúde física, mental e espiritual. Faça relaxamentos, meditações, caminhadas;
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Recuse as carícias negativas, sem devolver a agressão;
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Não se critique, perdoe-se , não se autotorture. Faça dos seus erros motivação para crescer;
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Reconheça para seus familiares e amigos os seus valores;
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Surpreenda as pessoas que ama e as que lhe amam ;
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Procure cercar-se de pessoas que sabem trocar carícias positivas (não de bajuladores com suas “carícias de plástico”),
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Seja paciente, gentil e generoso consigo mesmo;
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Admire-se ( do original ad-mirar: mirar-se, espelhar-se). Elogie-se na frente do espelho e diga: “eu te amo”.
Sorria! Você está sendo espelhado..
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Aceite-se. Você é único.
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Fique de bem com a vida. Seja feliz!
* Colaboração de
Ana Maria Ferreira Couto, residente em Vila Velha ― E.S., Servidora Pública Federal, aposentada, graduada em Engenheira Elétrica – UFES, Pós-graduada em Análise e Sistemas- FAESA, Practicioner em Neurolinguística ― Indesp, Praticioner em EFT pelo Instituto Sucesso.
Referências:
Berne, Eric : Análise Transacional em Psicoterapia. Summus, SP, 1981
Fachini, Ivo : Neurñios Dourados. Editora EKO, Blumenau – SC , 1997
Verny, Thomas : A vida da ciança antes de nascer, 1989
Schnebly, Lee : Apaixone-se por você, 1994
Ray, Louise: Você pode curar a sua vida, São paulo,Best Seller, 1996
Ray, Loise: Aprendendo a gostar de si mesmo, Sextante, 2001.
Shinyashiki, Roberto : A Carícia Essencial, Editora Gente, 2012
Godri, Daniel : Sou alguém muito especialCovey, Stefen R. : Os sete hábitos das pessoas altamente eficazes, Editora Best Seller ltda, 2009.
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