Por Sandra Nakkoud Ruiz
Desde muito pequenos aprendemos agir de acordo com nosso histórico de
vida, nosso modelo de mundo, sem filtrarmos nada, e tais comportamentos seguem conosco e formam nossa personalidade na vida adulta. “Então o que acontece na infância, não fica na infância.”
Esse artigo pode não ter base científica, é apenas uma reflexão baseada nos meus estudos em comportamento humano, em prática diária com psicoterapia e também na vida real com a experiência de ser mãe de uma menina de 8 anos, onde com esse texto pretendo apenas trazer para a consciência como agir em algumas situações para que possamos ser mais assertivos na participação da formação da personalidade de um ser humano.
O sentimento de culpa pode estar baseado em situações na infância onde antes mesmo de saber o que aconteceu com uma criança, os responsáveis por ela já chegam perguntando: O que VOCÊ FEZ? Ao invés perguntar: O que está acontecendo? Percebe a diferença, na segunda situação não tem a culpa implícita, é simplesmente uma pergunta. Esse futuro adulto cresce achando que sempre tem uma parcela de culpa em muitas situações da vida.
Na infância muitas vezes que uma criança chora pedindo algo e o seu responsável não lhe atende naquele momento do choro, e fala para ela que só irá atende-la quando fizer total silêncio, mal sabe esse adulto que está instalando naquela criança uma crença que ela só consegue as coisas quando não pede (chora), e na vida adulta não é bem assim que funciona, quando queremos qualquer coisa na vida é preciso sim, pedir, pois as pessoas não estão acostumadas a dar nada ao outro sem que o peçam. Assim esse futuro adulto poderá se frustrar tendo vergonha e achando que não é capaz de pedir nada, pois na infância sempre que pedia (chorava) ele não era atendido.
Existe também a situação onde o adulto acha que o mundo gira em torno do seu umbigo ou acha ter sempre razão. Vamos retornar a infância dessa pessoa, é bem provável que os responsáveis por ele tiraram os móveis ou bibelôs do lugar para ela não se machucar, e quando machucava o adulto dava tapinha nos móveis dizendo que o móvel machucou a criança e não a criança não prestou atenção ao móvel, e também é possível que em jogos e brincadeiras o adulto “sempre” deixava a criança ganhar, nunca perdendo nenhuma jogada. Não aprendendo lidar com perdas, quando cresce continua não sabendo perder nada, e achando está sempre com a razão.
No artigo anterior “Meu Filho é Bagunceiro” falei sobre a diferença entre comportamento e identidade, onde devemos atacar o comportamento e preservar a identidade. Um comportamento muito comum na vida adulta é a timidez. Muitas vezes o adulto nem é tímido, más os responsáveis reforçaram tanto isso na infância que até hoje acredita SER TÍMIDO. Já aconteceu mais de uma vez comigo e com minha filha a situação onde pessoas que nem a conhecem direito falam na minha frente: Nossa como ela É TIMIDA, e mais que rápido corrijo dizendo ela não é tímida, ela está tímida porque ainda não tem intimidade com você, mas lembre-se que ela é apenas uma criança. Nesse momento o que quero com esse comportamento é que minha filha escute de mim que ela não tem timidez e sim está com aquele comportamento. Isso vale também para crianças um pouco agitadas, ao invés dos responsáveis dizerem que a criança está fazendo bagunça, ela diz que a criança é bagunceira, com esse reforço no comportamento a criança fica cada vez mais agitada e assim segue até a vida adulta uma pessoa agitada e ansiosa.
Todos esses comportamentos acima poderiam ser evitados lá atrás. Como não temos bola de cristal nem manual de instruções, o que apresentei hoje foi apenas uma reflexão do COMO agimos ou como agiram conosco. Eu não posso mudar o passado, mas posso e sou totalmente responsável pelo futuro Das crianças de hoje que de alguma forma fazem parte da minha vida, seja em terapia, treinamentos e principalmente com minha amada filha.
Com carinho e gratidão,
Sandra Nakkoud Ruiz.
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